Tecnologia na medicina diagnóstica avança de olho na prevenção e engajamento do paciente

A inclusão de tecnologia na área da saúde tem o potencial de melhorar tanto o cuidado ao paciente quanto a eficiência para o sistema. Essa premissa tem sido seguida por instituições de praticamente todos os segmentos do setor, em especial na área de medicina diagnóstica, que forma pilar importante no rastreio de possíveis doenças e consequentes agravamentos. O uso de inteligência artificial na leitura de exames de imagem, por exemplo, é uma tendência já conhecida, mas os cases começam a avançar ainda mais em direção à prevenção, engajamento e adesão de tratamento pelos pacientes.

“A tendência é olharmos cada vez mais oportunidades para contribuir”, comenta Daniella Bahia, diretora médica do Grupo Fleury. “É possível analisar nossos laudos e capturar dentro deles, mesmo em contexto não estruturado, mensagens importantes para conseguirmos olhar a jornada do paciente e fazer conexões.”

Recentemente a empresa iniciou um processo de acompanhamento de exames de controle da diabetes. A iniciativa propõe rastrear os pacientes com a doença que não realizaram os exames de controle, como recomendado por diretriz médica, e enviar um lembrete para que realizem os procedimentos necessários. No Brasil, o número estimado de pessoas vivendo com diabetes é de aproximadamente 20 milhões.

Segundo Victor Gadelha, superintendente de Ensino, Pesquisa e Inovação da Dasa, essas inovações devem trazer impacto não só para o paciente, mas para a sustentabilidade do setor. Apesar de a tecnologia, em algumas vezes, representar alto custo de desenvolvimento e implementação, ele acredita que é algo que deve ser diluído ao longo do tempo. 

“Precisamos entregar mais saúde mantendo o custo ou, eventualmente, até reduzindo. Há muitas possibilidades, soluções muito mais rápidas, com classificação de textos muito mais eficazes, processos de ciclo de receita também que podem ajudar. Então, há um mundo de oportunidades que vemos nesse sentido”, avalia. 

Acompanhamento da diabetes

O projeto de acompanhamento do diabetes do Fleury alerta o paciente que está com exames em atrasos para que busque seu médico e, assim, seja acompanhado de perto pelo profissional. A empresa entrou em contato com 4.328 pacientes para que realizassem a coleta de hemoglobina glicada que estava em atraso: como resultado, o percentual de exames atrasados para as pessoas diabéticas diminuiu em 8% na marca a+ e em 6% na marca Fleury. A iniciativa também direcionou a mensagem para pessoas com pré-diabetes, ou seja, que têm níveis de glicose no sangue acima do normal, mas não são consideradas diabéticas. Para elas, foi registrado uma redução de 26% nos exames atrasados da marca a+ e de 15% na marca Fleury. 

A equipe médica se juntou com a equipe de ciência de dados para definir o grupo para o qual as mensagens seriam direcionadas e contatar os pacientes com exames em atraso. Foram selecionados pacientes com diabetes ou pré-diabetes que foram contatadas por meio do e-mail ou aplicativo de mensagem alertando sua situação e sugerindo que procurassem um médico.

“É uma relação ganha-ganha. Ganha o paciente, o laboratório e potencialmente a fonte pagadora. Não estamos falando de gerar demanda por gerar, estamos falando de engajar esse paciente no autocuidado, ativar um maior olhar para a saúde, sobretudo no campo da diabetes”, comenta Pedro Saddi, endocrinologista do Grupo Fleury. “Ainda não conseguimos medir, por exemplo, se esse aumento de frequência [de exame] vai trazer uma redução de hemoglobina glicada. Esse seria o grande objetivo, mas acreditamos que sim. Afinal, se a pessoa não está medindo, não tem como intervir. Mesmo que ela meça, não quer dizer que vai intervir, mas passa a ser, pelo menos, possível”, aponta. 

O monitoramento foi realizado com pacientes com hemoglobina glicada atrasada, mas também contou com dados relacionados a outros exames como o colesterol e albuminúria. Para o endocrinologista, ao trazer esses tipos de parâmetros mais próximos da meta, há uma expectativa de redução de custo em saúde. “É um paciente que vai ficar mais saudável, vai ter mais saúde, vai ter menos intercorrências”, explica.  

Segundo Daniella Bahia, a iniciativa foi bem aceita pelas pessoas contatadas e deve ser escalada, com a ajuda da tecnologia de informação, em um sistema automatizado para realizar o envio de mensagens

Riscos em laudos médicos

Entender riscos médicos por meio de dados também integra os projetos desenvolvidos pela equipe de inovação da Dasa. Dentro da companhia, a equipe voltou a atenção para ambientes nos quais os pacientes tinham uma demora expressiva para pegar seus laudos após realizarem os exames. O problema nesse caso é que, ao retornar depois de alguns meses, o paciente descobria que apresentava algum sinal de alerta à saúde. Nesse caso, a demora em pegar o laudo e tomar ciência do estado médico representam um atraso também no início de um possível tratamento. 

Por isso, o grupo de inovação da Dasa criou um algoritmo de processamento de linguagem natural, também conhecido como Natural Processing Language – NLP, uma ferramenta que faz a extração de dados clínicos relevantes para a saúde do paciente a partir dos laudos. “Do momento que o sistema encontra, por exemplo, um BI-RADS 4 que, na sequência, a mulher teria que fazer uma biópsia de mama, essa lista cai para um núcleo de médicos que são especialistas na área, e eles passam a ligar para os médicos que solicitaram esse exame para acelerar a jornada do cuidado”, explica Gadelha.

O algoritmo de extração de dados dos laudos contribui, portanto, para identificar riscos mais sérios que necessitam de olhar atento desde o diagnóstico que, quanto antes realizado, melhor. Nesse exemplo, a BI-RADS 4, que é uma categoria no laudo, indica uma suspeita de malignidade em uma lesão mamária, o que pode ser indicativo de câncer de mama. Por isso, ao encontrar esse dado, a recomendação médica é realizar mais exames para aferir o possível diagnóstico e tratar o quanto antes. 

Segundo a empresa, quando alertado por um médico após um achado pela ferramenta de NLP, o paciente dá o próximo passo no tratamento, em média, depois de 7 dias. Quando não alertado, o tempo é de 17 dias. “A taxa de retorno na próxima linha do cuidado é 18% maior em pacientes que têm esse tipo de intervenção. Nos casos oncológicos, isso pode fazer muita diferença”, aponta.

Análises de eletrocardiogramas 

Além do algoritmo de NLP, utilizado em todas as unidades da rede, a equipe de inovação da Dasa também elaborou outras ferramentas tecnológicas para a jornada do paciente. Uma delas é o Kardia, implementado em hospitais da rede em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, que faz um monitoramento inteligente capaz de emitir laudos em menos de 5 minutos para eletrocardiogramas críticos. O produto é fruto da parceria com a startup Neomed e ajuda médicos de pronto atendimento a identificarem riscos à saúde cardiovascular em eletrocardiogramas.  

“Existem mais de 100 condições desse exame que o médico da emergência poderia ver. Esse tipo de laudo que a inteligência artificial acelera não só ajuda os casos de emergência, como o infarto, mas ajuda a não deixar passar casos de doenças que não seriam diagnosticados”, comenta Gadelha. A partir do uso da ferramenta, é iniciada a navegação do paciente numa jornada de cuidado para receber o melhor tratamento.  

De acordo com o superintendente, alguns pacientes dos hospitais entram para realizar determinados procedimentos, como uma intervenção cirúrgica simples, por exemplo, e, ao realizar um exame de eletrocardiograma, é detectada uma condição adversa que afeta a saúde cardiovascular. Essa tecnologia foi utilizada para descobrir uma síndrome rara em um jovem de 15 anos em Brasília, a síndrome de Wolff-Parkinson-White. Após sentir dores durante um treino de basquete, o garoto foi levado ao pronto socorro onde realizou um eletrocardiograma e recebeu o diagnóstico da síndrome que provoca taquicardias no indivíduo devido a uma má formação congênita. 

“A [IA] generativa é o lugar que estamos olhando agora, muito focada em como essa tecnologia pode gerar eficiência clínica, manter a qualidade do atendimento com custo igual ou menor”, reforça Gadelha.

Fonte: https://futurodasaude.com.br/tecnologia-na-medicina-diagnostica/

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